Um híbrido é um cruzamento de duas espécies diferentes, e aqui também se cruzam mundos diferentes: a matriz tradicional alentejana com uma cozinha moderna.
Como matriz tradicional alentejana falo de saberes e sabores que João Narigueta, Chef e proprietário deste restaurante eborense, pesquisa e trabalha, numa incessante procura de produtos locais e de saberes ancestrais. Contudo, conjuga-os de forma criativa, numa lógica mais de cozinha moderna e sofisticada (fine dining).
O pequeno espaço com apenas 16 lugares situa-se no número 34 da Rua Serpa Pinto, a escassos metros da Praça do Giraldo, no centro histórico da cidade. Ambiente descontraído apesar da sofisticação colocada na confecção, uma decoração simples e quase minimalista, um espaço agradável.
O vinho é tratado com respeito, copos adequados e cuidado nas temperaturas, embora com poucas opções, contudo muitas delas invulgares, de pequenos produtores, entre convencionais e outros de filosofias mais naturalistas.
Uma visita onde foi possível experimentar vários pratos, começando a refeição com um pão Barbela feito pelos próprios, estaladiço, saboroso, com boa acidez, acompanhado de azeite extra virgem, húmus de chícharos e pimentão.
Depois veio o brioche com creme de espumante, sapateira, abacate de Montemor, funcho selvagem, passa de uva e limão caviar. O umami da sapateira, a frescura da lima e do creme de espumante com açafrão, a cremosidade do abacate, a doçura do brioche, um conjunto muito guloso e saboroso, de lamber os dedos.
As entradas terminaram com as Papas de Cevada, com cogumelos de Portel, coentros e Poejo e Vinagre de marmelo (caseiro). Cremoso e caldoso, muito saboroso, os cogumelos em destaque com a frescura e aroma do vinagre e o funcho selvagem no final de boca. Puro conforto mas com sofisticação.
Nos pratos principais, um momento de “mar” e um momento de “terra”. Primeiro a Açorda de marisco, com carabineiro, mexilhão e lula, gema de ovo. Grande cremosidade, sabor intenso, levemente picante, tudo confeccionado no ponto, um belíssimo momento.
Por fim, Estufado de língua de vaca, com puré de cenoura, couve Kale e kimchi de cebola roxa. Não sou nada fã de língua de vaca, mas não deixei de experimentar, confecção exemplar com a língua muito macia e um bom equilíbrio de sabores.
Resumindo, uma visita surpreendente e a repetir. Deixo a nota de que o menu é alterado com muita frequência, ao sabor dos produtos sazonais e daquilo que chega fresco no dia-a-dia, o que conjugado com o espírito criativo de João Narigueta dificilmente irá experimentar o que aqui partilhei.